Essa
senhora que foi personagem real de uma fase conturbada nos primeiros tempos do Império do
Brasil, tinha o nome real de Dometila de Castro Canto e Mello, porém
como a grafia é arcaica, os livros atuais de história preferem chamá-la de Domitila
de Castro Canto e Mello. Com o advento de novos historiadores brasileiros
ávidos por descobrir e propagar a verdadeira história do Brasil, nada mais intrigante do
que estudar os meandros dos bastidores de quem reinou por aqui, e é ai que entra essa
mulher de duas fases, a da devassa e inconsequente amante de D. Pedro I, e a da senhora
benfeitora e influente na sociedade paulistana.
Todos sabem que ela é de fato vinda de família da nobreza brasileira, filha de João
de Castro do Canto e Melo, primeiro Visconde de Castro, que por sua vez é descendente dos
primeiros patriarcas da cidade de São Paulo. Justamente por causa desse parentesco é que
então Domitila frequentava a Corte brasileira, quanto então ela fora
"descoberta" por D.Pedro I, e a história a seguir é de conhecimento geral.
D.Pedro I teve dois filhos e três filhas de seu relacionamento extraconjugal com
Domitila, razão pela qual Domitila não poderia ser considerada uma simples filha de
nobre, e portanto, ela mesma recebeu um título de nobreza, primeiramente como Viscondessa
de Santos, em 12 de Outubro de 1825, e em 12 de Outubro de 1925 tem seu título elevado
para o de Marquesa de Santos. |
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Domitila não tinha brasão exclusivo pois adotara o mesmo brasão de seu pai, o 1º
Visconde Castro, e que posteriormente o 2º Visconde de Castro também usaria.
Parecer técnico sobre os brasões do 1º e 2º Visconde de
Castro, e da Marquesa de Santos:
O início da arte heráldica brasileira: A arte heráldica brasileira
estava ainda engatinhando da sua formação quando a família real portuguesa chegou ao
Brasil, em 1808. Por tradição, a arte heráldica brasileira descede da arte heráldica
lusitana, que por sua vez já era algo também não muito bem definida. Nos tempos do
início do reinado de D.Pedro I houve vários casos de registro de brasões de nobres
brasileiros com desenhos equivocados, alguns gravemente fora dos padrões, como é o caso
do brasão do Visconde de São Leopoldo, que na sua Carta de Armas o brasão recebia o
desenho de uma coroa de Duque (clique aqui para conhecer mais detalhes sobre essa história). Da
mesma forma também houve uma certa confusão sobre a configuração dos brasões da
família Castro Canto e Melo, tanto pela definição de quais armas deveriam compor o
brasão desta família, quanto na ordem dos quartéis, e até mesmo no correto desenho das
armas da familia Canto. Em tese são detalhes que não são de grande importância para os
leigos em heráldica, mas que para os amantes desta arte trata-se de uma matéria que
chama a atenção.
Registros nobiliárquicos: Ainda nos primeiros anos do exílio da
familia imperial brasileira na França, quando D.Pedro II e D. Isabel já haviam
falecidos, fora editado um extenso compêndio, publicação pioneira na divulgação
completa dos títulos nobiliárquicos com o título de Archivo Nobiliárchico
Brasileiro (grafia da época), editado em 1918 em Lausana (Suíça), cujos autores
são os luso-brasileiros Rodolfo Smith de Vasconcelos, segundo barão de Vasconcelos, e
seu filho, Jaime Smith de Vasconcelos, terceiro barão de Vasconcelos. Com ilustrações
heráldicas por Fernando James Junod, apresenta também os desenhos de todos os brasões
concedidos no período imperial brasileiro, e que foram devidamente registrados no
Cartório da Nobreza. A obra é dedicada "a sua alteza imperial o Senhor Dom Luiz de
Orléans Bragança", segundo filho de D.Isabel, e então herdeiro da Coroa
Brasileira, visto que seu irmão mais velho renunciara o direito dinástico. Dom
Luiz lutou em toda a sua vida pela restauração da monarquia brasileira, e veio a
falecer dois anos após o lançamento deste livro. Ainda na época de seu lançamento já
se descobrira várias informações erradas, algumas desencontradas, outras chegando até
mesmo sendo falsas, porém, resultantes de problemas de falta de informações corretas,
pois tudo era feito fora do Brasil, e numa época em que os registros monárquicos estavam
inascessíveis pela recém instaurada república brasileira. É por isso que
posteriormente diversas outras publicações, como os anuários e revistas editados pelo
Instituto Genealógico Brasileiro de São Paulo e alguns artigos escritos por Laurênio
Lago para o anuário do Museu Imperial de Petrópolis, acrescentaram uma expressiva série
de correções, atualizações e ampliações aos dados originais do Arquivo
Nobiliárquico.
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Descrição heráldica do brasão da Marquesa de Santos, que são
as mesmas das do seu pai, o 1º Visconde de Castro e de seu filho, o 2º Visconde de
Castro: "Escudo em lisonja partido, o primeiro quartel com as armas
dos Castros, que são: de argente (prata) com seis arruelas de azure (azul), postas 2,2 e
2; o segundo quartel com as armas dos Cantos, que são: de goles (vermelho) com um
baluarte de argente (prata) posto em quina. Coroa de Marquês." |
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Detalhe: Em torno do escudo foi desenhado livremente por nós a banda da Ordem de Sta. Isabel de
Portugal, que Domitila recebera em 1827. Não era costume da época desenhar
condecorações nos brasões. |
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O
formato losangular do escudo, que na arte heráldica chama-se "lisonja", é o
formato característico para brasões femininos. |
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Ao lado vemos a reprodução do desenho das armas da família Castro
Canto e Melo completa, pois tinha o timbre, que é o da família Canto. |
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O brasão estava desenhado num reposteiro que havia na sala do palacete
de Domitila, em São Paulo. Originalmente a coroa desenhada naquele reposteiro era algo
alegórico, pois não representava nenhuma classe de nobreza existente, nem no Brasil e
nem em lugar algum no mundo, e portanto, desenhamos uma coroa de Marquês. O enfeite
entre o escudo e a coroa não significa nada na arte heráldica, bem como também o
pequeno círculo vermelho. |
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Achamos que o desenho misturava
as armas dos Castro Canto e Melo com algumas formas artísticas alegóricas desenhadas
livremente. Na época era comum desenhar detalhes alegóricos sobre desenhos oficiais, que
do ponto de vista heráldico é um erro grotesco. O símbolo acima da coroa, que mais se
parece com uma pirâmide encimada por uma pomba, é o timbre das armas da família Canto.
Trata-se de uma forma heráldica triangular, chamada de ponta diminuta. Em tese
esta peça fora adotada pra fazer alusão a uma baluarte tomado pelo patriarca da família
Canto há uns séculos atrás numa investida militar, razão pela qual o seu Rei de então
lhe concedera o direito de usar um brasão com um desenho fazendo alusão a uma das quinas
de um baluarte. Baluarte é uma fortaleza militar, que visto de cima tem um formato de
estrela, que ficava na entrada de uma enceada marítima, que com seus canhões atacava
navios invasores. Não há concenso heráldico sobre como deveria ser desenhado essa peça
heráldica, e por isso, optamos por desenhar o formato escolhido por Domitila,
independentemente se era a forma correta ou não. |
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